sexta-feira, 31 de julho de 2015

Farricoco















Hoje sonhei que morava em uma montanha
sempre
pela
manhã
com minha habitual amargura
eu atirava tudo que encontrava
no penhasco
Imaginava-me caindo...
Será que meus olhos estariam abertos?
Será que meus olhos estariam fechado?
Sentia o vento
em meu rosto
chegava a sentir a dor de meu corpo
estatelado no chão
Acordei...
Hoje uma música me fez pensar em você o dia todo
"Voyage Voyage"
lembra-se de quanto eu detestava essa música?
Lembro-me da sua voz tão nitidamente
que
parece foi hoje
ouvi
você
cantar
pela última vez
Você cantava para me irritar
eu calava
sua
boca
com beijos
Hoje escuto e gosto de "Voyage voyage"
(além de ser uma linda música)
me lembra do seu belo sorriso
da sua linda voz
me lembra dos momentos felizes
de nossos lábios
quando se encontravam
de quando sonhávamos
os mais belos
sonhos
Você sempre teve bom gosto
Eu fui um erro na sua vida
Na vida de todos
Agora não mais
serei erro na vida de ninguém
antes que o erro se concretize
já percebem e se afastam
Dormi e sonhei
que'u era uma árvore
Uma árvore de corações
e
sempre
que
alguém
furtava
um
dos
corações
outro
crescia
no
lugar do'utrora roubado
"O amor é um demônio desgraçado
que vive a me passar rasteiras"
Sonhei na mesma noite
(acho que foi na mesma)
Eu me drogava tanto
que começava a misturar
sonho
e
realidade
Tinha
me
viciado em viver na sarjeta
sempre procurando motivos
pra dizer
não fazer diferença estar bem
sonhei que era uma fonte de sangue
e que em minhas águas sanguinolentas
banhavam-se
homens'em olhos
mulheres'em bocas
Voltei
à
montanha
mas,agora haviam
crianças sem orelhas
por
toda
parte
Elas não
tinham
orelhas
mas
tinham
bocas
e
não
se
calavam
Então
solene
surge um Farricoco
carregando um caixão
como seu bondoso
Jesus Cristo
carregava
a
cruz
as malditas crianças se calam
Junto ao Farricoco
estão os homens'em olhos
e as mulheres'em bocas
que banhavam-se em minhas águas sanguinolentas
Me aproximo do caixão
vejo o morto
eu o conhecia bem
o morto
o morto
era eu...
Acompanhei meu próprio funeral
De repente vejo-me dentro do meu caixão
Os dias passam
os vermes me jantam
as baratas
as baratas
que sempre temi
trepam
no que antes era meu rosto
Acordo tremendo e suando frio
penso em todos que'u amava
e que magoei
e chego a conclusão
que sou como o bandoleiro selvagem
o bandoleiro selvagem
que fala Mishima em suas "Confissões de uma máscara"
eu mato todos que amo...
Sou'm perdido
as vezes
gosto
de
achar que sou o pior ser humano
me acostumei com os espinhos em meu coração
será que nasci assim
ou será que deixei tudo desabar?
Pois não lembro de um dia sequer
sentir ter meu lugar
nesse
mundo!
Obs: Farricoco é o Indivíduo que, nos enterros, carrega o caixão
Penitente que segue a procissão, vestido de hábito escuro, capuz cobrindo-lhe a cara e que, de quando em quando, toca uma trombeta.
Alex Peron

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