sexta-feira, 31 de julho de 2015

Triste Alento

















Pai
Quando os meus pés
Não mais levantarem poeira 
Neste árido chão
E minha voz
Não mais singrar o espaço
A se perder no azul do céu
Não busque-me no horizonte
Nem no burburinho da multidão
Tampouco nas nuvens
Que passam sobre sua cabeça
Encontre-me na luz derradeira
De qualquer por-do-sol
Ou no quedar silente
Da vil solidão
Nas, não murmure meu nome
Assim à toa
Nem diga que fui
A melhor pessoa
Mas se minha ausência te doer
Grite bem alto
Aos quatro cantos do mundo
Que meus olhos guardavam
Todo um mar de pranto
Tão doce e fugaz
Leve e inocente
Que de gota em gota
Foi-se no vento
Pai
Diga a qualquer transeunte
Que minha boca era
Uma caverna amarga
E os meus dentes, estalactites
E estalagmites esculpidas
Pela precisão do acaso
Diga tudo enfim
Que ainda não foi dito
Diga que o meu grito
Era um eco fúnebre
E que minha língua
Era um dragão lúgubre
Que flutuava nas brumas
Do absurdo
Diga pai
Que meu estômago
Era gaveta pública
Para guardar fome
E projetos políticos!!!
Francyo Dyaz

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